quarta-feira, dezembro 30, 2009

Ana Luísa Amaral

Revisitações

Se eu como ele, o meu amor
tão anterior assim ao próprio amor,
o cajado e a pele por simbólica mão,
e o perfume que em mim,
então,

talvez eu te fizesse
sentir sem que o soubesse,
ao certo,
a chamamento à noite, falar
muito de noite e nela adormecer.
Longuíssima e final. Mas nova sempre.
Reencarnando os tempos e as datas.

De memórias tão curtas. E do fim
mais final do esquecimento.
Ter encontrado há pouco coisa dada
há quantos anos? Trinta?
«Não te esqueças de mim.».

de Às Vezes o Paraíso

Ana Luísa Amaral
Anos 90 e agora
Uma Antologia da Nova Poesia Portuguesa
edições quasi

bolo - rei


24/12/2009

Praia e Morte

Para lá, virámos a NE na bifurcação.
A caligrafia era agreste: montanhas de terra
que secara até ser pedra e pó no ar uivante;
inverosímeis montanhas escritas
por uma tinta baça e rala, as acácias breves
já encurvadas pelo Cão do Vento.
As letras do verde ardiam sob a cinza
que é a das casas, e cintilavam o ouro mínimo
como se fossem riscos no olhar que
as claras cabras negras escreviam.
Na estrada, por entre as casas, subindo os montes
as jovens gentes olhavam-nos límpidas
e éramos por isso humanos: eles, nós
criaturas incriadas, abertas ao pequeno espanto
feliz, à alegria distraída da vida viva.


Íamos ao encontro de duas paisagens
que a estrada liga e dobra uma sobre a outra.
A segunda era a curta beleza de uma enseada
com palmeiras; uma praia branca
aberta contra a montanha terrosa:
o mar doméstico e os barcos do ócio.


Para cá, pelo oriente da ilha, uma larga curva
atirou-nos contra a alta figura do mar
que do céu se despenhava. Uma,
várias vezes o perdemos e o reencontrámos.
Rasgava, entre os ombros dos sucessivos corpos
da terra que se deita, pequenas baías negras
pontes sobre rios já nenhum, e a seguir
súbitos palmares ainda verdes e já o ouro
envelhecido, debotado, pobre.
E eram de novo as casas, as casas cinza
inúmeras: do piso térreo erguem-se os cabos
que no ar escrevem em vão o piso ausente.
Os artífices, os habitantes emigram
para longes terras ou habitam resistentes
as casas
incompletas.


Foras ao encontro de duas paisagens
que a mesma estrada separa e dobra
uma
sobre a outra. Esta, a primeira
aquela que agora outra vez
regressa
era uma ferida mortal que degenerou ainda.
O tempo dos assassinos gravou-a na terra
estancada, bebida até ao osso dos dentes.
É uma ferida mortal que degenerou para além
do assassínio. Parece que tudo em volta
infectou:
as mães gastas e as crianças estridentes.
O mundo cicatriza nas árvores embranquecidas
de velhas:
uma simetria sem folhas, uma sequer.
Cicatriza nas portas de ferro, no ferrolho
nas grades inúteis contra o silêncio
e a sombra morta das celas, nas ondas paradas
e estéreis dos telhados de cimento e zinco;
no calor, no vento e na poeira. Cicatriza
na carcaça de uma máquina abandonada
roída como as ossadas de um animal
aquecido até àquele negro branco que a vida
abandonou para pasto do monstruoso
sol.


Manuel Gusmão
































































Relâmpago nº5






















domingo, dezembro 27, 2009

natal

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boom

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quarta-feira, dezembro 23, 2009

sei

terça-feira, dezembro 22, 2009

segunda-feira, dezembro 21, 2009

é isso

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domingo, dezembro 20, 2009

sábado, dezembro 19, 2009

lupas

MC

o tecto

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a seta

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na cozinha

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Fernanda Pissarro

Belos trabalhos de uma grande amiga na Galeria Prova de Artista
http://provadeartista-blog.blogspot.com/2009/12/exposicao-pissarro.html

obras

neste preciso momento estão dois brasileiros a fechar o acesso ao sótão
e eu aqui no sofá a ler, ver tv, usar o portátil
e meio aborrecida
tomara que eles não levem muito tempo
uma menininha de enormes olhos e boca vermelhíssima, cheia de grandes dentes encavalitados, canta em inglês na tv
e eu desejando que os homens se despachem
a minha filha já deve ter chegado à tailândia com o marido e amigos
e eu pràqui chateada

ir ao facebook dá-me angústias
fulano agora é amigo de...
fulana é fã de...
há pessoas que fazem imensas entradas, com "conselhos" enlatados, comunicações de tudo e mais aquilo
vivem lá
comem à mesa do facebook
serão felizes?
bem...eu também não sou um bom exemplo de felicidade
mas às vezes sou bem feliz, sim senhor
ser feliz todo o tempo também deve ser um pouco chato
é preciso haver uns contrastes now and then

acabei o meu curso há mais de 20 anos
pedi o diploma e paguei-o mas de cada vez que ia buscá-lo ainda não estava pronto
perdi a pachorra

agora precisei do papel por causa da provável ida para o oriente no próximo ano
como é um pedido de estadia longa pedem as habilitações e o ordenado
não sei se estarei ao nível das exigências deles...

na faculdade venderam-me a versão mais ou menos do diploma em inglês
que bom assim os de lá não terão que arranjar ou mandar arranjar tradutor/a
embora a língua deles seja outra o inglês é comum

reparei que a data do ano do fim de curso no diploma é um ano mais cedo que a da tradução...
bem, espero que não peçam mesmo o diploma senão vão pensar que ando a falsificar coisas dessas
lá naquele oriente dava logo prisão se eu lá estivesse

os homens continuam
tive de sair à hora de almoço
quando regressei tinham deixado cair uma tábua que esburacou o corrimão da escada
a gente vai arranjar, se a senhora não gostar a gente substitui o corrimão
está-se mesmo a ver

ai, homens despachem-se que eu gosto é de estar sozinha com a minha gata
e queria fazer fotografias de vocês e da bagunça
mas não tenho coragem
crepúsculo
"ovni"

quinta-feira, dezembro 17, 2009

sismo

estava eu a ler "o mundo de sofia", livro que tinha começado há muito e não continuara a ler.
a gata saltitava de um lado para outro.
nisto a cama estremece com um ruído forte.
que andava a gata a fazer em cima das caixas guardadas debaixo da cama?
estranho, a gata estaria entalada e não conseguia sair?
estaria a arranhar o colchão e as tábuas da estrutura, um dos seus desportos favoritos e isso explicaria o barulho?
e o estremeção?
outro se segue acompanhado do barulho.
resolvi ir ver o que se passava
a gata andava por outros lados.
hoje soube que tinha havido um sismo.
moro num quarto andar

domingo, dezembro 13, 2009

eheheh

Finger Painting: Above Ground

Finger Painting: Above Ground

levitações

lisboa parecia uma noiva estremunhada

neblinas no jardim
encontrei a minha árvore de natal
que belo conselho
podia também tirar uma fotografia ao meu marido que está aí
e lá estava ele de facto atrás de mim
lindo, vocês são ambos muito bonitos
sorrisos contentes
posso tirar-lhe uma fotografia?
pode pois, respondeu a bela avezinha (sim, avezinha de grandes olhos cor de mel) à janela

terça-feira, dezembro 08, 2009

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Jacques Prévert

dit par René CLERMONT

Pour faire le portrait d'un oiseau

Peindre d'abord une cage
avec une porte ouverte
peindre ensuite
quelque chose de joli
quelque chose de simple
quelque chose de beau
quelque chose d'utile
pour l'oiseau
placer ensuite la toile contre un arbre
dans un jardin
dans un bois
ou dans une forêt
se cacher derrière l'arbre
sans rien dire
sans bouger...
Parfois l'oiseau arrive vite
mais il peut aussi bien mettre de longues années
avant de se décider
Ne pas se décourager
attendre
attendre s'il le faut pendant des années
la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau
n'ayant aucun rapport
avec la réussite du tableau
Quand l'oiseau arrive
s'il arrive
observer le plus profond silence
attendre que l'oiseau entre dans la cage
et quand il est entré
fermer doucement la porte avec le pinceau
puis
effacer un à un tous les barreaux
en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau
Faire ensuite le portrait de l'arbre
en choisissant la plus belle de ses branches
pour l'oiseau
peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent
la poussière du soleil
et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été
et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter
Si l'oiseau ne chante pas
c'est mauvais signe
signe que le tableau est mauvais
mais s'il chante c'est bon signe
signe que vous pouvez signer
Alors vous arrachez tout doucement
une des plumes de l'oiseau
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.

Jacques PRÉVERT, Paroles (1945)
©1972 Editions Gallimard

quinta-feira, dezembro 03, 2009

quarta-feira, dezembro 02, 2009

museu

A correr...

Serge Reggiani - Le déserteur (Boris Vian)

Dois grandes, o cantor e actor, Serge Reggiani e Boris Vian, cantor, poeta, músico, escritor...

Georges Brassens - Supplique pour être enterré... (sub. es.)

Adoro.

Georges Brassens Il N'y a Pas D'Amour Heureux English Subs

oxalá, obrigada. E, sim, gosto muito de Georges Brassens.